sábado, 3 de maio de 2008

Tudo sobre minha avó

Com que idade você descobriu e/ou teve a feliz surpresa que o seu aniversário caía sempre na mesma data do dia que você tinha nascido? Você achou uma super coincidência? Pois eu achei. E é por esse motivo que me divirto muito, hoje em dia, ao perguntar a uma criança aniversariante o porquê de toda aquela folia, bexigas, brigadeiros, beijinhos, palhaços, presentes, etc. O diálogo já é comum e descrevo aqui o último, nessa última semana:

- Oi, Isa, tudo bem? Por que essa festa toda?
- Porque hoje é o meu aniversário.
- E o que é “o seu aniversário”?
- É essa festa, ué.
- E como é que agente escolhe o dia do nosso aniversário?
- Não é agente que escolhe, é mãe da gente, ué.
- Mas por que sua mãe não escolheu amanhã?
- Porque amanhã é sábado, né, tio? A escola não abre.
- Ah, entendi!
De fato, foi a mãe dela que (não deliberadamente) escolheu esse dia pra seu aniversário, mas sei que não foi disso que ela estava falando. Eu disse “ah, entendi” porque não queria bancar o professor chato que fica fazendo um monte de perguntas no meio da festa, impedindo a PLATINHA de pular na cama elástica ou mergulhar na piscina de bolinhas, mas se meu diálogo pudesse continuar sem neuras, as próximas perguntas seriam “Então se a escola abrisse de sábado o seu aniversário seria amanhã? E por que não, ontem? E por que não, todo dia? A gente não pode fazer aniversário, duas vezes ao ano? Por quê? E por que a sua mãe sempre escolhe um dia de frio pra fazer seu aniversário?
Depois de tudo isso, talvez minha doce PLATINHA Isabella, tentaria descobrir com sua mãe o porquê de tudo aquilo e talvez descobrisse, por exemplo, o motivo pela qual as pessoas lhe dão parabéns nesse dia, mesmo que você não tenha tido nenhum mérito que merecesse tal congratulação.
Isso nos deve levar a refletir, que muitas vezes nossos PLATINHOS são capazes de explicar minuciosamente o porquê e a serventia de várias coisas, mas se você pedir a ela que conceitue, ela não saberá. Isso acontece com muitas outras coisas. Mesmo conosco, PLATÕES, que, por exemplo, não entendemos porque chamamos “lanche natural” de “lanche natural” se, na maioria das vezes, o pão utilizado é industrializado; ou ainda, porque diferenciamos “água com gás” de “água sem gás” desta forma, se a “água sem gás” tem oxigênio e hidrogênio, que são dois gases. Portanto a “água sem gás” nada mais é, do que um líqüido composto única e exclusivamente por gases, mas é chamada de “sem gás”.
Outro questionamento muito comum que costumo fazer aos meus PLATINHOS, é pedir que eles conceituem ou pelo menos digam “o que é avó?”(essa discussão é o tema do vídeo abaixo). É impressionante. Eles dominam totalmente o assunto, sabem o que as avós fazem, pra que elas servem, sabem da sua importância, mas não sabem dizer porque ela é chamada assim. Isso lhes parece muito complexo.

Proponho então, aos PLATÕES que atuam com PLATINHOS (em filosofia ou não), que levem esses questionamentos para a sala de aula e traga de volta relatos de suas experiências.

Fica a pergunta: Qual é o momento certo para levarmos o conceito de certas coisas tão comuns ao universo infantil, como o nosso aniversário ou o nome que se dá a mãe de nossa mãe, aos nossos PLATINHOS? E esse papel, é nosso ou é da família?

2 comentários:

Unknown disse...

Minha nossa!!! Tanto sobre a questão da avó quanto sobre a questão do aniversário ... é surpreendente como nós somos resultado de uma sociedade, de padrões, de conceitos que são estabelecidos. Nessa questão até o nominalismo podemos recuperar, onde avó poderia se chamar tanto "blublublublu" quanto "nananinanao" ou avó, como chamamos. Mas dos dois o que mais gostei foi do aniversário, podemos também levar este aspecto para o Natal. Até que ponto o Natal (que nada mais é que uma festa de aniversário em proporções ocidentais) para elas não é uma mera festinha para ganhar presentes ou, ainda que expliquemos que o Natal é para comemorar o aniversário de Jesus Cristo e tentarmos explicar quem é Jesus, será que elas entenderão?
Acho que se eu fosse criança entraria em aporia, porque, se o Natal é para comemorar o nascimento de Cristo, então é o aniversário de Cristo. Mas no aniversário de Cristo quem ganha presentes não é ele, sou eu. Logo, no aniversário dos meus amiguinhos quem deve ganhar presente sou eu e não eles!!!!
Ai ... é ótimo voltar a ser criança às vezes ...

ORANJE STER disse...

gostei deste texto....isso é só a ponta do iceberg né? Todos são direcionados a pensar de certa forma e acreditar em convenções. E isso vai muito além do que imaginamos...pensar em um mundo sem convenções e sem hipocrisias seria ótimo..mas isso não mudaria apenas o jeito que a mãe conta histórias para o filho..mudaria também a relação mãe e filho. Enfim é uma longa viagem...